segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ótimo Negócio: Aluguel de Mentes

Cenário

O mercado de trabalho de TI no Brasil é muito próspero e vem passando nos últimos anos por uma crise de necessidade por profissionais qualificados o que,
naturalmente, torna tais profissionais mais caros, assim, sendo profissionais com um salário superior à média de salários das diversas profissões, empresas
buscam alternativas para diminuir o custo de contratar e manter um profissional de TI em seus quadros.

A forma de contratação CLT, nesta situação, é muito onerosa e, mais e mais empresas, especialmente as de médio e pequeno porte, normalmente consultorias, optam por outros formatos de contratação como por exemplo o de Pessoa Jurídica ou simplesmente PJ.

As consultorias fazendo isso diminuem, e muito, o custo de manutenção do profissional, pois o profissional PJ não é um funcionário efetivo da empresa e sim
uma empresa prestadora de serviços, retirando, em partes, o vínculo com o profissional enquanto pessoa física. Além dos aspectos tributários, outros fatores contribuem para a diminuição deste custo, como ausência de 13o salário, férias remuneradas, pagamento de INSS, fundo de garantia, dentre outros.

Recentemente vem se criando uma tendência de "beneficiar" o profissional PJ com alguns dias de férias remuneradas ao ano e algum outro benefício menor.

Em contrapartida, as empresas que contratam neste formato repassam parte do "lucro" que obtiveram por não pagar os impostos do formato CLT para o profissional e este também paga menos impostos, obtendo, assim, um montante liquido mensal maior em relação ao que obteria no CLT com a vantagem ainda deste valor poder ser gerenciado da forma como o profissional PJ desejar.

O Grande Negócio

Expondo estes aspectos, aparentemente esta forma de contratação estabelece uma excelente relação ganha-ganha entre empresa e profissional.

Aparentemente...

Aparentemente, pois este vínculo é bastante frágil, uma vez que o profissional PJ, na maioria das vezes, não se sente integrante de uma equipe com
objetivos, valores e missões convergentes, ele perde a identidade com a empresa onde trabalha, pois muitas vezes, atua terceirizado e até mesmo "quarteirizado" dentro de outras empresas chamadas "clientes", mesmo assim esta relação pode durar pouco tempo já que o profissional pode ser alocado em um projeto distinto numa outra empresa "cliente".

É muito comum a forma de trabalho acima citada para quem é PJ e este formato nada mais é que o formato de aluguel, sendo a empresa contratante o "corretor", o profissional PJ o "objeto" e a empresa onde o profissional atua em última instância o "inquilino". Daí, o negócio é matemático, o "objeto" tem um custo de manutenção x (salário negociado e uns poucos "benefícios") e o "corretor" cobra do "inquilino" um valor de aluguel superior ao custo de manutenção x, estabelecendo aí o grande negócio das consultorias.

As Consequências

Acontece que no meio deste grande negócio se encontra um ser humano, o "objeto" do contrato, que realmente se sente como tal e a pergunta é: O que faz este profissional permancer numa empresa cujas relações de trabalho são configuradas conforme expostas acima?

Em alguns casos, aspectos não relacionados à consultoria e sim ao cliente final ("inquilino"), como ambiente, localização e flexibilidade de horários. Mas e se a relação entre "corretor" e "inquilino" terminar ou se desgastar, o que resta para o profissional? E se algum outro "corretor" estiver disposto a pagar um custo de manutenção maior pelo "objeto"? O que prende o "objeto" ao corretor se não houver um bom "inquilino"?

Uma das respostas a estas perguntas se dá através da observação do próprio mercado de trabalho: Alta Rotatividade !

Ela se dá não só por isso, é verdade, pois esta pode ocorrer pela ganância de profissionais menos maduros e/ou inexperientes, pela alta demanda por profissionais que pressiona os salários para cima ("custo de manutenção do objeto"), dentre outros, mas principalmente, ao meu ver, pela desumanização da relação entre empresas e profissionais.

O que fazer?

Creio que é hora das empresas reverem as relações que estabelecem na prática com seus profissionais. Principalmente as relações onde o profissional é PJ, abrindo espaços para benefícios próximos aos que o formato CLT pratica, humanizando mais as relações com ele, permitindo que ele tenha o direito de ficar doente algumas vezes no ano sem ser punido na remuneração que recebe ao final do mês, de poder descansar um período no ano sem se preocupar como irá repor os dias de descanso, de não ter que se desgastar anualmente com negociações junto ao seu contratante para que seu salário não fique menor a cada ano diante das mordidas da inflação.

O que podemos fazer? Mobilização? Divulgação? Lutar por nossos direitos? Como? Os que lerem este post, favor colocar a sua opinião, traga sua experiência à tona, traga exemplos de onde esta humanização já ocorre para que nós, profissionais de TI, tenhamos um norte, uma direção, uma esperança! Quanto mais comentários, mais pontos de vista, maiores são as chances de aproveitarmos grandes lições.

Aqui compartilhei um pouco da minha visão e aguardo que compartilhe a sua também caro leitor.

2 comentários:

  1. Caro amigo, é verdade o fato do "objeto" ser tratado como uma máquina, mas as máquinas quebram e são obrigadas a ter manutenção para seu bom funcionamento, as consultorias esquecem que as pessoas necessitam de descanso, pagam X para um profissional bom e ganha 2 ou 3 X e cima do cara, as empresas que não querem vínculos CLTs deveriam contratar de forma direta seus profissionais e não por meio de uma consultoria.
    Um funcionário feliz fica anos na empresa, uma boa remuneração, descanso (férias), um bom tratamento (a maioria vê PJ como bicho), faz o profissional ficar muito tempo na empresa e não há a alta rotatividade.
    O fato é que atualmente as empresas tratam seus funcionários como recursos (eu odeio essa palavra) e recursos são descartáveis, por isso se um recurso sai um novo é posto em seu lugar, mas o que esquecem é que tem uma curva de aprendizado e não é do dia para a noite que o novo recurso saberá fazer tudo igual e rápido como o anterior.
    Infelizmente PJ sem direito a nada ou casos de CLT + Flex que é outra forma de remuneração são nocivos para a sustentação de um profissional por muito tempo na empresa.
    Porém empresas que tratam seus funcionários como seres humanos (PJs ou não, dando direito a férias e bonifica seus funcionários ) difícilmente tais profissionais deixarão a empresa.

    Ótimo post, parabéns.

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  2. É verdade, esse tipo de vínculo de PJ incentiva a existência de profissionais "mercenários" que só se importam com a remuneração. Isso infelizmente ocorre não por um sentimento de ganância do profissional, mas sim por reflexo das Empresas que contratam os terceiros, que, por não terem vínculos empregatícios com os profissionais, não se dão ao trabalho de investir em boas condições de trabalho, benefícios, carreiras, etc. Desta forma, o que sobra ao profissional é ser um mercenário, visando o próprio bem estar e sem um sentimento de "equipe" com o cliente em que ele trabalha.

    Parabéns pelo post, diz exatamente a realidade que os profissionais PJ vivem.

    Grande Abraço.

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